A Estrutura do Pensamento Marxista
A Estrutura do Pensamento Marxista
O objetivo primário de Marx era explicar a produção material, mas para isto precisou compreender todo o conjunto de processos, determinações e contradições que se se relacionam historicamente, neste sentido o pensamento marxista se formou a partir de três pilares; a filosofia de Hegel, a economia de Smith e Ricardo e o socialismo de Proudhon. Neste contexto o pensador alemão estabeleceu seu método dialético, em seus fundamentos.
Para Marx a teoria seria a reprodução mental do objeto pelo sujeito investigador. Nesse processo o objeto é reproduzido idealmente através de seus aspectos fundamentais, sua estrutura, dinâmica e desenvolvimento. Em síntese para Marx, compreender um objeto em essência corresponde apreensão da sua história e dos seus nexos constitutivos. Portanto, segundo Chagas (2018) o método dialético de Marx não é um instrumento, uma técnica de intervenção externa do pensamento ao objeto, como que um caminho pelo qual o pensamento manipula, a partir de hipóteses exteriores, o objeto. O pensamento tem, na verdade, que se livrar de opiniões pré-concebidas, de conceitos externos ao objeto, de hipóteses que pairam acima dele, para nele mergulhar e penetrá-lo, considerando apenas o seu movimento, para trazer à consciência este trabalho da própria lógica específica do objeto específico (Perreira, 2019).
Marx portanto, reconstitui o concreto no pensamento originando de seu aspecto mais simples visando chegar ao mais complexo, ou seja, realizando o percurso da aparência (simples) para a essência (complexo). Parte, portanto, do imediato/momentum e o reconstitui pelo pensamento como uma “categoria mental concreta”. Seu método promove a reconstrução do real no pensamento. Sendo assim, Marx disruptou a concepção social de ciência, a partir do caráter ontológico de mediação do ser social com a natureza. O método contido na teoria marxiana pressupõe um individuo que sempre irá possuir uma postura política (conciente ou não) de desvelamento da aparência, apontando suas contradições, seus fundamentos ideológicos e mediações com a totalidade social.
O método marxiano surge de uma determinação ontológica da realidade social sobre a consciência tendo no materialismo histórico dialético uma operação não subjetiva, resultante de um conjunto normativo de procedimentos fixos abstratamente construídos, baseado numa teoria especulativa, que visa a perpetuação do modo de produção burgês/capitalista.
Neste sentido a a teoria e metodologia na análise marxiana partem de uma determinada realidade social para captar as múltiplas determinações, que se elevam na elaboração de um todo pensado que relaciona particularidade, singularidade e totalidade, apreendendo a essência e a aparência do objeto, com o objetivo de criticar as relações opressivas e contrárias e propor a transformação das relações sociais na qual o oprimido possa se rebelar contra seu opressor.
A leitura da realidade feita pelo método marxiano apreende um todo vivo e articulado, construído objetiva e subjetivamente pelo ser social. A pesquisa marxiana, portanto, nunca será neutra; ela sempre será um caminho político, que visa desvendar os interesses classistas e apoiar o interesse do coletivo, da emancipação do ser social.
Neste contexto tem-se que a criação de um permanente embate na filosofia da ciência desde o século XIX, tendo-se instalado primeiro no interior das relações sociais de produção, e que ainda não tem vencedor, no qual diz respeito ao duelo entre, a tradição epistemológica liberal-burguesa e a “epistemologia” vinculada à corrente de pensamento fundada por Karl Marx.
Neste cenário, para Corrêa (2007), se considera o debate sobre metodologia como elemento constituinte da própria ciência, a discussão entre métodos científicos que são nos seus fundamentos inconciliáveis toma ares de debate sui generis no interior da filosofia da ciência por que envolve diretamente uma disputa, na perspectiva de cada uma, para diferenciar o que é mero acessório do que é de fato essencial para ser conhecido cientificamente. É válido notar que essa disputa acontece não só sob a forma de ataques teoricamente diretos feitos de uma em direção à outra, mas eles acontecem na maioria das vezes de forma indireta, tentando cada uma refutar os argumentos da corrente “adversária” por meio de outras demonstrações, com análises metodológicas diferentes sobre um mesmo objeto, como é exemplo as investigações sobre a origem do capitalismo feita por Karl Marx e Max Weber, divergentes já nos seus pontos de partida, e que invariavelmente chegaram a resultados opostos.
Nesse ínterim, continua Corrêa (2007), pode-se colocar que o debate sobre a cientificidade das teorias marxianas frente as demais métodos científicos é ainda atual e ganha cada vez mais destaque na medida em que se assiste a uma nova empreitada teórica contra os fundamentos do marxismo que conseguiram se fixar na academia. Vide, por exemplo, a importância contemporânea das teses de Habermas e a diluição do seu conteúdo por outras áreas da academia que não a filosofia e a sociologia. Por outro lado, essa caçada anti-marxista ainda ganha o reforço contemporâneo da teoria e prática econômica neoliberal que vai se tornando, a sua maneira, cada vez mais hegemônico no interior das agremiações científicas.
Desta forma, quanto a discussão epistemológica feita sobre um ponto de vista de divisões de classe, pode-se observar que mesmo a existência de duas opiniões proeminentes sobre o marxismo: os declarados opositores somados àqueles que a consideram como mais uma obra da filosofia, ante os que elevam à uma categoria de patrimônio intelectual da humanidade e uma específica forma de intervenção na realidade. Ambos utilizam a divisão e luta de classe como elemento primordial na discussão social.
Marx, depois da sua morte, tornou-se um dos mais importantes pensadores dos últimos 150 anos, primeiro, porque, como apresentado no início do texto, se baseou em outros grandes pensadores, e segundo, porque pôde, a partir desta fundação sólida, desenvolver sua própria teoria sobre a totalidade social. Sendo capaz de, dialeticamente, se diferenciar de seus predecessores retendo o que de fundamental continha as respectivas filosofias.
Ele criou uma interpretação única através do que de mais novo havia no materialismo antigo e no moderno com o idealismo alemão, somado a explicação inglesa e burguesa de economia com os interesses dos trabalhadores expressos no movimento socialista, fornecendo-lhe o armamento teórico para suas reivindicações.
Com a incorporação crítica da dialética de Hegel nos seus textos por si já é capaz de fazer uma análise mais completa da totalidade do sistema capitalista do que qualquer outra, entretanto, a determinação de uma força política e histórica para o conhecimento é o que mais o distingue das epistemologias de origem burguesa e marca o seu diferencial em relação à elas. Nenhum outro tinha feito um diagnóstico dão preciso da história do capitalismo quanto Marx, entretanto sua metodologia foi incapaz de entender o futuro.
Conclui-se que a Filosofia de Marx, e a seu “método” científico é robusto e único, pois relaciona-se com uma força social e histórica concreta e funciona como elemento importante para a luta pela emancipação do proletariado do final do século XIX,, tornando-se princípio-guia de toda uma nova filosofia, contribuindo essencialmente para o desdobramento e a realização completa de revoluções que se seguiram. Também é importante ressaltar que Bakunin (1814-76) profetizou quanto a falha do pensamento marxista quanto ao futuro do movimento idealizado por Marx - “Se você pegar o mais ardente revolucionário, e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele seria pior que o próprio Czar”. Bakunin criticava de forma efusiva o que chamava de "socialismo autoritário" e o conceito de “ditadura do proletariado” pois seria impossível coexistir liberdade e estado. Tal visão foi comprovada com sucesso pela Revolução Russa e a história da União Soviética.