A controvérsia sobre o pensamento do sociólogo Max Weber em relação ao calvinismo

Max Weber, um dos mais importantes sociólogos do século XX, argumentou que o calvinismo, uma forma de protestantismo que surgiu na Europa no século XVI, teve uma influência significativa no desenvolvimento do capitalismo moderno.

Ele argumentou que os valores e crenças calvinistas contribuíram para a ascensão do capitalismo, em parte, porque os calvinistas enfatizavam a importância do trabalho árduo, da disciplina e da frugalidade. Esses valores, segundo Weber, ajudaram a criar uma ética de trabalho que incentivava a acumulação de riqueza.

Em sua obra mais famosa, "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", Weber argumentou que o calvinismo contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo moderno, porque os calvinistas acreditavam na predestinação, ou seja, que Deus já havia escolhido quem seria salvo e quem seria condenado. Como resultado, muitos calvinistas acreditavam que, se trabalhassem arduamente e fossem bem-sucedidos financeiramente, isso poderia ser um sinal de que Deus os havia escolhido para serem salvos.

Mas a relação entre o calvinismo e a prosperidade foi vista por Max Weber apenas como uma explicação histórica e sociológica, e não como uma crítica ou elogio, o sociólogo argumentava que o calvinismo teve uma influência significativa no desenvolvimento do capitalismo moderno, mas sem fazer uma avaliação moral positiva ou negativa dessa relação. Ele simplesmente apresentou uma teoria sobre como as crenças e valores calvinistas contribuíram para o surgimento do capitalismo, sem fazer nenhum juízo teológico ou doutrinária.

Para Weber a ética de trabalho e a busca pela acumulação de riqueza não condenadas pelo calvinismo ajudaram a criar um ambiente favorável ao desenvolvimento do capitalismo moderno. No entanto, ele também reconheceu que essa ética de trabalho pode ter algumas consequências negativas, como a alienação do trabalhador e a falta de atenção às questões sociais.

Essa crença, segundo Weber, incentivou os calvinistas a trabalharem com afinco para acumular riqueza e sucesso financeiro. Além disso, os calvinistas também enfatizavam a importância de reinvestir a riqueza em negócios, em vez de gastá-la em prazeres pessoais, o que, por sua vez, ajudou a promover o desenvolvimento do capitalismo. Para chegar às suas conclusões sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade, Max Weber utilizou várias fontes, e em nenhuma delas teve como base a teologia reforma de João Calvino. Sendo destacaram as seguintes bases bibliográficas:

Ao reunir e analisar essas diversas fontes, Weber se considerou capaz de desenvolver sua teoria sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade sem uma análise focada da doutrina e nas questões teológicas. Tal negligência fez com sua obra fosse usada como crítica a doutrina reformada.

Portanto, a visão weberiana pode ser adotada de forma diferente na cosmovisão dos católicos, calvinistas e arminianos. É importante notar que as visões dentro de cada grupo religioso podem variar amplamente e nem todos os membros de um grupo religioso compartilham a mesma visão.

Entre os católicos, a visão sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade pode ser diversa. Alguns católicos podem ver a ética de trabalho e a frugalidade promovidas pelo calvinismo como positivas, enquanto outros podem questionar a ideia de que a riqueza é uma prova da salvação ou benção divina.

Entre os calvinistas, alguns podem ainda ver a relação entre o calvinismo e a prosperidade como positiva, enfatizando a importância da ética de trabalho e da busca por excelência no trabalho. No entanto, outros podem questionar essa visão e enfatizar que a salvação não é garantida pela riqueza ou sucesso financeiro.

Já entre os arminianos, pode haver uma ênfase maior na responsabilidade humana pela prosperidade, em vez de uma crença na predestinação divina. Alguns arminianos podem enfatizar a importância da ética de trabalho e do empreendedorismo, enquanto outros podem enfatizar a importância da partilha e da justiça social.

A relação feita por Rothbard sobre a visão de Weber

Murray Rothbard, um economista e filósofo político americano, criticou a visão de Max Weber sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade em seu livro "A Ética da Liberdade". Rothbard argumentou que Weber estava errado ao ver o capitalismo como um produto do calvinismo e da ética de trabalho protestante.

Segundo Rothbard, a teoria de Weber ignora o papel fundamental da propriedade privada e da livre iniciativa no desenvolvimento do capitalismo. Para o economista, a chave para entender o surgimento do capitalismo é a compreensão de como os indivíduos em uma sociedade livre se envolvem em trocas voluntárias e buscam maximizar seu bem-estar.

Além disso, Rothbard argumentou que a ética de trabalho não é um fator decisivo no desenvolvimento do capitalismo. Ele observou que muitas culturas ao redor do mundo têm uma ética de trabalho rigorosa, mas não necessariamente têm um sistema econômico capitalista.

Em vez disso, o autor americano, defendeu que o capitalismo surge a partir da livre troca voluntária entre indivíduos, sem a intervenção coercitiva do Estado. Ele argumentou que o capitalismo se desenvolveu historicamente a partir da revolução comercial e industrial do final do século XVIII e início do século XIX, e que as ideias políticas e econômicas da época, como o liberalismo clássico, foram fundamentais para o seu desenvolvimento.

Em resumo, Rothbard criticou a visão de Weber sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade, argumentando que o surgimento do capitalismo se deve principalmente à liberdade individual e à iniciativa privada, em vez de uma ética de trabalho ou crenças religiosas específicas. E por ser economista e não teólogo Rothbard não entre no cerne da controvérsia teológica.

A visão de teológica reformada quanto a hipótese de Weber

Herman Bavinck, um teólogo reformado holandês, contemporâneo de Weber, em seu livro "A Filosofia da Revelação", abordou a teoria de Max Weber sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade. O holandês concordou que o calvinismo teve influência significativa no desenvolvimento do capitalismo moderno, mas enfatizou que essa influência não se limitou apenas ao aspecto ético de trabalho. Em vez disso, Bavinck argumentou que o calvinismo promoveu uma visão do mundo que valoriza a criação e o trabalho humano, além de incentivar a iniciativa individual e a responsabilidade pessoal.

Para Bavinck, o calvinismo não é apenas uma ética de trabalho rigorosa, mas também uma visão de mundo que enfatiza a importância do trabalho e da criação humana como uma das formas de glorificar a Deus e servir aos outros. Ele afirmou que essa visão de mundo é compatível com o desenvolvimento econômico, mas não deve ser reduzida a ela.

Além disso, argumentou que a teoria de Weber é seletiva na medida em que foca apenas no aspecto ético do calvinismo e ignora outros fatores que contribuíram para o surgimento do capitalismo, como o desenvolvimento da tecnologia e do comércio.

Herman Bavinck baseou sua análise sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade em fontes como os escritos dos reformadores protestantes, incluindo João Calvino, Martinho Lutero e Ulrico Zuínglio, bem como em teólogos e pensadores reformados posteriores, como Abraham Kuyper e Jonathan Edwards.

Ele também considerou a história econômica e social da Europa Ocidental durante o período da Reforma e pós-Reforma, bem como a influência do calvinismo em países como a Holanda, Escócia, Suíça e Estados Unidos. Além disso, examinou as teorias de outros pensadores sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade, incluindo as críticas e revisões da teoria de Max Weber por outros autores.

As análises de Herman Bavinck sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade são encontradas principalmente em seu livro "A Filosofia da Revelação", publicado originalmente em holandês em 1909.

No capítulo 12 deste livro, intitulado "Reforma e Mundo Moderno", Bavinck examina a influência do calvinismo na história da Europa Ocidental e na formação da sociedade moderna. Ele discute a relação entre o calvinismo e a ética do trabalho, bem como a visão de mundo calvinista que valoriza a criação e o trabalho humano.

Além disso, em seu livro "The Christian Family", publicado originalmente em holandês em 1908 e traduzido para o inglês em 2012, o teólogo também discute a influência do calvinismo na vida familiar e na formação de uma sociedade saudável e próspera.

Outros teólogos calvinistas, contemporâneos a Max Weber, tiveram diferentes reações à hipótese de Weber sobre a relação entre o calvinismo e o capitalismo. Alguns, como Abraham Kuyper aceitaram parcialmente a hipótese de Weber, enquanto outros, como Charles Hodge e B.B. Warfield, rejeitaram-na categoricamente.

Abraham Kuyper, em particular, via a hipótese de Weber como uma validação da visão reformada da vocação e do trabalho. Kuyper acreditava que a teologia reformada enfatizava a responsabilidade individual no trabalho e na busca da excelência, e que isso era uma parte importante do desenvolvimento econômico.

Por outro lado, Charles Hodge e B.B. Warfield rejeitaram a hipótese de Weber como uma leitura equivocada da teologia reformada. Eles argumentaram que a teologia reformada não promove uma ética de trabalho em detrimento da piedade e da vida espiritual, e que a prosperidade material não é necessariamente um sinal da bênção de Deus. Além disso, eles argumentaram que a teologia reformada não é uma justificativa para o capitalismo, mas sim uma resposta à graça de Deus em Cristo.

Podemos citar também alguns teólogos puritanos, anteriores a Weber,  que discutiram a relação entre a ética calvinista e o desenvolvimento econômico e que foram ignorados pelo sociólogo:

Quanto aos teólogos modernos podemos destacar: R.C. Sproul, um teólogo) reformado americano, em seu livro "O Caminho de Deus", também observou que a ética de trabalho rigorosa promovida pelo calvinismo, bem como a ênfase na responsabilidade individual, na educação e na acumulação de riqueza, ajudou a criar uma atmosfera cultural que favoreceu o desenvolvimento econômico. R.C. Sproul aborda a teoria de Max Weber sobre a relação entre o calvinismo e a prosperidade em vários de seus livros e palestras, mas algumas das análises mais detalhadas podem ser encontradas em seus seguintes textos:

John Piper[1], outro teólogo americano, por exemplo, é conhecido por seu ensinamento sobre a teologia do contentamento e sobre a importância de buscar a glória de Deus em todas as áreas da vida, incluindo o trabalho e a riqueza material. Ele argumenta que o trabalho e a prosperidade são bênçãos de Deus, mas que devem ser vistos como meios para um fim maior, que é a glória de Deus. Nesse sentido, ele enfatiza a importância de uma ética de trabalho baseada no amor a Deus e ao próximo, em vez de uma ética de trabalho baseada apenas no sucesso material.

Já o teólogo reformado Paul Washer[2], também americano, por sua vez, é conhecido por sua ênfase na necessidade de uma conversão genuína e de uma vida de santidade como fruto da salvação em Cristo. Ele argumenta que a prosperidade material não é uma medida da bênção de Deus e que o sucesso financeiro não deve ser o objetivo principal da vida cristã. Em vez disso, ele enfatiza a importância de buscar a vontade de Deus em todas as áreas da vida, incluindo o trabalho e as finanças.

Além desses exemplos de teólogos reformados podemos citar alguns teólogos calvinistas brasileiros que se posicionaram sobre a hipótese levantada por Weber, como:

Como outras escolas de pensamento avaliam a hipótese de Weber

Para Escola Austríaca um elo poderia ser a obra "Ação Humana" de Ludwig von Mises que mesmo não sendo uma teoria diretamente relacionada à hipótese de Weber sobre a relação entre o calvinismo e o capitalismo. Em vez disso, é uma obra ampla que se concentra na teoria econômica e na ação humana como a base da atividade econômica. O livro explora como os indivíduos tomam decisões econômicas e como essas decisões afetam a alocação de recursos na economia.

No entanto, alguns estudiosos têm argumentado que os insights de Von Mises podem ser usados para explicar a relação entre religião e economia de maneira diferente da abordagem de Weber. Por exemplo, o economista israelense Israel Kirzner, um proeminente seguidor de Von Mises, argumentou que a teoria de Von Mises pode ser usada para explicar como as crenças religiosas moldam as escolhas econômicas dos indivíduos e, portanto, afetam a economia em geral.

Outro importante pensador Michel Foucault mesmo que não tenha realizado uma pesquisa específica sobre a hipótese de Weber. No entanto, é possível pensar em como a análise de Foucault sobre a formação do capitalismo pode ser vista como uma abordagem crítica à hipótese de Weber.

Enquanto Weber destaca a importância de fatores culturais e religiosos na formação do capitalismo, Foucault enfatiza a importância das práticas sociais, políticas e econômicas que permitiram o surgimento de uma nova forma de poder disciplinar. Para Foucault, o capitalismo não é apenas uma forma de produção econômica, mas também uma forma de governo que se baseia em tecnologias disciplinares e de controle social.

Em seu livro "Vigiar e Punir", Foucault analisa como as instituições disciplinares modernas, como as prisões e as fábricas, foram desenvolvidas para controlar e regular a vida das pessoas, criando novas formas de poder e subjetividade. Ele argumenta que essas instituições disciplinares foram cruciais para o surgimento do capitalismo, fornecendo as condições para o desenvolvimento de uma nova forma de produção e de subjetividade.

Assim, enquanto Weber destaca a importância de fatores culturais e religiosos na formação do capitalismo, Foucault destaca a importância das práticas sociais, políticas e econômicas que permitiram o surgimento de uma nova forma de poder disciplinar. A análise de Foucault pode ser vista como uma crítica à hipótese de Weber, mostrando que outros fatores além da religião e da cultura podem ter desempenhado um papel fundamental na formação do capitalismo. Em outra obra "Microfísica do Poder" (1979) Foucault examina a relação entre as ideias e o poder, argumentando que as teorias e os discursos são formas de poder que produzem efeitos reais na sociedade.

Foucault critica a ideia de que o capitalismo seja uma consequência inevitável do desenvolvimento econômico, como sugerido por Weber. Em vez disso, ele argumenta que o capitalismo é o resultado de práticas discursivas e políticas específicas que emergiram em um determinado momento histórico. Foucault destaca que, ao falar sobre o capitalismo como algo que surge de forma natural, Weber oculta as relações de poder que sustentam o sistema.

Além disso, no pensamento de Foucault entende-se que Weber falha em reconhecer a natureza contingente do poder. Ele sugere que o poder não é uma entidade fixa e permanente, mas sim algo que é constantemente negociado e reconfigurado por meio de práticas discursivas específicas. Em vez de ver o poder como algo que se origina em uma fonte central, como o Estado ou a classe dominante, Foucault argumenta que o poder é difuso e se manifesta de maneiras complexas em todos os aspectos da vida social.

Conclusão

Como um modelo de explicação única para o surgimento do capitalismo moderno, a hipótese de Weber deve ser sempre vista de forma crítica e com contestações. Muitos estudiosos argumentam que ela é limitada e que negligencia outros fatores sociais, políticos, econômicos e culturais que contribuíram para o surgimento do capitalismo moderno, além de não possuir nenhuma análise teológica.

Outra crítica comum à hipótese de Weber é que ela generaliza demais a ética do trabalho protestante e ignora as diferenças e as variações dentro das tradições religiosas protestantes. Em seu livro "Max Weber's Theory of the Modern State: Origins, Structure and Significance" (1982), Keneth Thompson argumenta que a ética do trabalho protestante assumiu diferentes formas e significados em diferentes contextos históricos e culturais, e que a obra de Weber não leva em conta essas variações.

No entanto, a hipótese de Weber pode ser adotada como uma simples referência para a discussão sobre a relação entre religião e economia. Ela gerou uma vasta literatura e estimulou debates interessantes sobre a ética do trabalho, a busca da prosperidade e o papel da religião na vida econômica. Portanto, ela deve ser considerada como uma explicação parcial e limitada, mas ao mesmo tempo um ponto de partida para reflexões mais amplas e complexas sobre a relação entre religião, ética e economia.

Vale ressaltar que ainda não há uma teoria única e consolidada que substitua a hipótese de Weber sobre a relação entre o calvinismo e o capitalismo. No entanto, existem várias teorias e abordagens que oferecem outras perspectivas e nuances para a discussão.

Por exemplo, a sociologia econômica, que se desenvolveu a partir dos anos 1980, enfatiza a importância das instituições sociais, políticas e culturais na formação e no funcionamento dos mercados e das economias. Essa abordagem destaca a influência de fatores como as redes sociais, as normas, as tradições e as estruturas organizacionais na organização da produção e do comércio. Em vez de se concentrar apenas em aspectos individuais e subjetivos, a sociologia econômica considera o papel das relações sociais e das instituições na formação das economias.

Além disso, outras teorias e abordagens[3] que se destacam são a história econômica, a teoria da regulamentação, a teoria das convenções, a teoria da inovação e a economia institucional. Essas teorias e abordagens oferecem outras maneiras de entender a relação entre religião e economia, considerando fatores como as mudanças tecnológicas, as políticas públicas, a concorrência, a diversidade cultural e as contingências históricas.

Fica, portanto, claro que as visões como as de Foucault, Rothbard e Bavinck sobre a hipótese de Weber são bastante distintas e apresentam diferentes enfoques em relação ao papel do calvinismo na formação do capitalismo moderno.

Michel Foucault, em sua análise sobre a hipótese de Weber, busca mostrar como a compreensão da relação entre poder e conhecimento é essencial para entender a relação entre o calvinismo e o capitalismo. Em seu livro "Microfísica do Poder", Foucault argumenta que o poder não é algo que uma pessoa ou um grupo possui, mas sim algo que circula e é exercido em diferentes níveis e relações sociais. Nesse sentido, ele aponta que o calvinismo foi um movimento que reforçou a subjetividade individual, estimulando uma ética do trabalho, da disciplina e da responsabilidade pessoal, o que acabou por favorecer o desenvolvimento do capitalismo.

Por outro lado, Murray Rothbard, em seu livro "A Ética da Liberdade", critica a hipótese de Weber ao afirmar que a ética do trabalho não foi a única ou principal responsável pelo desenvolvimento do capitalismo, mas sim a liberdade econômica e a propriedade privada, que permitiram a livre troca de bens e serviços entre indivíduos. Além disso, Rothbard aponta que o calvinismo foi apenas uma das várias correntes religiosas que existiram durante o período de desenvolvimento do capitalismo, e que outros fatores, como as descobertas geográficas e as revoluções científicas, também tiveram papel importante nesse processo.

Por fim, Herman Bavinck, em seu livro "Teologia Sistemática", aponta que a ética do trabalho e a responsabilidade individual, enfatizadas pelo calvinismo, podem ter contribuído para o desenvolvimento do capitalismo, mas que isso não significa que a relação entre ambos seja necessária ou automática. Para Bavinck, é importante lembrar que o capitalismo tem um caráter ambíguo, com aspectos positivos e negativos, e que a ética do trabalho precisa ser equilibrada com outras virtudes cristãs, como a justiça, a generosidade e a solidariedade.

Dessa forma, podemos perceber que as análises de Foucault, Rothbard e Bavinck apresentam diferentes perspectivas sobre a relação entre o calvinismo e o capitalismo, com pontos de convergência e divergência. Enquanto Foucault destaca o papel do poder e da subjetividade individual, Rothbard enfatiza a liberdade econômica e a propriedade privada, e Bavinck ressalta a importância do equilíbrio entre a ética do trabalho e outras virtudes cristãs.

E por fim, não é possível apontar uma base bíblica para a posição de Weber sobre a relação entre calvinismo e prosperidade, já que sua análise foi fundamentada em questões históricas e sociológicas, e não em uma interpretação teológica das Escrituras. É importante lembrar que Weber não era um teólogo, mas sim um sociólogo e historiador, e sua análise se baseava em fatores culturais, políticos e econômicos. Portanto, é importante distinguir entre o que é uma análise sociológica e o que é uma interpretação teológica das Escrituras.

Também não podemos culpar Weber pela Teologia da Prosperidade, um movimento religioso cristão surgido na década de 1950 nos Estados Unidos, que prega que a fé em Deus garante a prosperidade financeira e material. Já que a hipótese de Weber sobre a relação entre o calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo tem um foco diferente, não se tratando de uma doutrina religiosa que promete riqueza em troca da fé. Além disso, Weber nunca defendeu a ideia de que a religião ou a fé em Deus garantem a prosperidade financeira, mas sim que certas ideias e valores presentes no calvinismo contribuíram para a ascensão do capitalismo.

De fato, Weber enfatizou que os calvinistas não viam a riqueza como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para cumprir sua vocação e propósito divino no mundo. Além disso, a teologia da prosperidade não se baseia apenas na ideia de que a riqueza é uma evidência da eleição divina, mas também na crença de que Deus quer que seus seguidores sejam ricos e prósperos nesta vida. Essa ênfase na prosperidade material como uma bênção divina é algo que não encontramos na teologia calvinista em geral e certamente não é o que Weber defendeu em sua análise.

Os pais da teologia da prosperidade são geralmente identificados como o pastor americano E. W. Kenyon (1867-1948) e o pastor pentecostal americano Kenneth Hagin (1917-2003), que popularizaram o ensinamento de que Deus deseja que seus seguidores prosperem financeiramente nesta vida e que a fé em Deus e em suas promessas pode levar à riqueza e ao sucesso material. Esse ensinamento se tornou amplamente conhecido como a "teologia da prosperidade" ou "evangelho da prosperidade".

Kenyon, em particular, é considerado o pai da Confissão Positiva, que ensina que a linguagem tem um poder criativo e que as pessoas podem falar coisas positivas em sua vida e obter o que desejam, incluindo prosperidade financeira. Já Hagin enfatizava a importância da fé na obtenção de curas e bênçãos materiais, e escreveu vários livros sobre o assunto, como "A Autoridade do Crente" e "Aprendendo a Lidar Com o Diabo".

Ambos os pregadores influenciaram profundamente o movimento pentecostal e carismático, especialmente nos Estados Unidos, onde a Teologia da Prosperidade se tornou mais difundida. No entanto, é importante notar que muitos teólogos e líderes religiosos pentecostais e carismáticos rejeitam as ideias da Teologia da Prosperidade como contrárias aos ensinamentos bíblicos.

Em suma, a hipótese de Weber sobre a relação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo possui severas críticas com destaque a falta de evidências teológicas, o foco excessivo na cultura ocidental e a ausência de consideração pelos fatores históricos e sociais que contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo.

Também foi apresentado a visão de vários teólogos calvinistas em relação à hipótese de Weber, bem como a análise de Foucault sobre a relação entre poder e conhecimento na construção dessa teoria.

Finalmente, jogou uma luz no real problema teológico que é a teologia da prosperidade e sua relação com a hipótese de Weber, bem como os possíveis perigos de vincular a riqueza material com a eleição divina.

Portanto, é notório que a hipótese de Weber continua sendo um assunto controverso e sujeito a críticas. Enquanto alguns argumentam que a ética protestante desempenhou um papel significativo no desenvolvimento do capitalismo ocidental, outros enfatizam a importância de fatores históricos e sociais e questionam a validade dessa teoria.


Notas:

[1] Algumas obras de John Piper que podem ser relevantes para essas afirmações são: "Desiring God: Meditations of a Christian Hedonist" / "The Pleasures of God: Meditations on God's Delight in Being God" / "Let the Nations Be Glad!: The Supremacy of God in Missions" / "When I Don't Desire God: How to Fight for Joy"

 [2] Obras de Paul Washer: "The Gospel's Power and Message"/ "The One True God" / "The Gospel Call and True Conversion" / "The Truth About Man" / "The Gospel's Power and Efficacy"

[3] Alguns exemplos de autores e obras influentes nessas áreas incluem: Mark Granovetter, autor de "Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness" (1985) e "The Sociological and Economic Approaches to Labor Market Analysis: A Marxist Critique" (1976)/ Douglass North, autor de "Institutions, Institutional Change and Economic Performance" (1990) e "Understanding the Process of Economic Change" (2005)/ Olivier Favereau, autor de "The Theory of Conventions: A New Approach to the Theory of Social Order" (1998)/ Michel Callon, autor de "Some Elements of a Sociology of Translation: Domestication of the Scallops and the Fishermen of St. Brieuc Bay" (1986) e "Society in the Making: The Study of Technology as a Tool for Sociological Analysis" (1998)/ Ronald Coase, autor de "The Problem of Social Cost" (1960) e "The Nature of the Firm" (1937)