Reflexões sobre a Graça de Deus 

Reflexões sobre a Graça de Deus

De acordo com a crença de muitos, Deus conduz a Sua vontade na humanidade, permitindo que a liberdade humana seja o meio pelo qual Ele a realiza. Contudo, o mistério reside no fato de que Deus não explicita como esse processo ocorre, simplesmente revelando que acontece.

Este conceito, embasado em uma profunda compreensão bíblica, destaca a soberania divina e, ao mesmo tempo, enfatiza a responsabilidade humana perante Deus. A Bíblia, como fonte de orientação espiritual, oferece diversos versículos que podem elucidar e complementar essa perspectiva.

Em Provérbios 16:9 "O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor." Este versículo sublinha a ideia de que, embora o homem possua a capacidade de planejar e agir, a orientação e o direcionamento vêm de Deus. Isso ressalta a harmonia entre a vontade humana e a soberania divina.

Já em Jeremias 29:11 - "Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro." Neste verso, Deus revela Seu plano benevolente para a humanidade, destacando Sua soberania ao mesmo tempo em que oferece esperança e propósito aos seres humanos.

Em Filipenses 2:13 temos "Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele." Aqui, a cooperação entre a vontade humana e a ação divina é evidente. Deus não apenas permite, mas também atua no coração humano para realizar Sua vontade.

Esses versículos, entre outros, compõem a base bíblica que sustenta a compreensão de que Deus, em Sua soberania, permite que a liberdade humana desempenhe um papel crucial na execução de Sua vontade. Ao mesmo tempo, os seres humanos são chamados a assumir a responsabilidade por suas ações, reconhecendo que suas escolhas estão inseridas no plano divino.

Em suma, a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana é um mistério que a fé abraça. Confiar na sabedoria divina enquanto assumimos nossa responsabilidade é um convite à colaboração entre o Criador e Suas criaturas, onde a liberdade humana é o veículo pelo qual a vontade de Deus se manifesta na história da humanidade.

Dito isto, a conclusão que podemos chegar com grande fundamento bíblico é que Deus é soberano e o homem é responsável pelos seus atos. Nos próximos itens tentaremos mitigar algumas dúvidas e equívocos relacionados a responsabilidade humana e a Soberania de Deus em relação ao Plano da Salvação.

Um equívoco acerca da Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana

Apesar de várias pessoas e até ministros da Palavra de Deus pensarem que a soberania de Deus e a liberdade de escolha humana se relacionam da seguinte forma: quanto maior a soberania divina, menor seria a possibilidade do homem fazer escolhas livres.

E que sob essa ótica, para que Deus seja totalmente soberano, o homem não poderia ter escolhas livres, podendo apenas fazer as escolhas pré-determinadas pelo Senhor. O ser humano até poderia fazer escolhas segundo sua própria vontade, mas essa vontade teria que ser determinada por Deus. A menor possibilidade de escolha livre do homem implicaria uma redução da soberania de Deus, a ponto de descaracterizá-lo como Soberano. E assim, cada detalhe do universo, da história e da vivência humana seriam meticulosamente determinados pelo Senhor, sem que Ele levasse em conta quaisquer decisões dos homens, posto estas também seriam determinadas por Ele. Até mesmo os atos maus praticados pelos homens teriam quer ser decretado por Deus.

Este grupo acredita que existe uma certa liberdade para o homem fazer algumas escolhas, sem a participação do Criador e que isso não reduz a soberania de Deus em nem mesmo um milímetro pois Ele nos fez imagem e semelhança.

Antes de abordarmos qualquer aspecto relacionado à soberania de Deus, ao seu caráter ou a qualquer um de seus atributos, é imperativo que nos voltemos para as Escrituras. Nosso conhecimento acerca de Deus está intrinsecamente ligado ao que Ele mesmo revelou. Afinal, os juízos de Deus são insondáveis e seus caminhos, inescrutáveis, como nos lembra Romanos 11:33. O entendimento de Deus ultrapassa grandemente o nosso, conforme expresso no Salmo 139:6, e seus caminhos e pensamentos transcendem os nossos, como declarado em Isaías 55:9. Em Jó 36:26, é enfatizado que Deus é grande, e nossa compreensão é limitada diante de Sua grandeza, pois o número de seus anos é incalculável.

Isso não implica que somos incapazes de conhecer algo sobre o Senhor, mas ressalta que nosso entendimento está restrito aos termos exatos em que Ele escolheu revelar-se, evitando especulações ou suposições. Se Deus optou por revelar seus atributos de uma maneira específica e dentro de determinados limites, devemos nos ater estritamente a essa revelação, com temor e reverência, como destacado em Deuteronômio 29:29, que nos lembra que as coisas encobertas pertencem ao Senhor, enquanto as reveladas nos são destinadas, a nós e às gerações futuras, para que cumpramos Suas palavras.

Certamente, Deus é soberano. Tudo o que existe está sob Sua autoridade e poder, desde a queda de um pássaro, conforme mencionado em Mateus 10:29,30, até o estabelecimento e queda de reis e líderes das nações, como explicitado em Romanos 13:1-7. Nada pode ser imposto a Ele; como proclama o Salmo 24:1, a terra e tudo o que ela contém pertencem ao Senhor. Ele frustra os planos das nações e anula os intentos dos povos, como nos diz o Salmo 33:10,11, e é incontestável em seu poder, conforme expresso em Jó 42:2. O Deus que anuncia o que há de acontecer desde o princípio, como registrado em Isaías 46:9,10, tem um conselho que permanece firme, e Ele realiza toda a sua vontade ao longo das gerações.

Portanto, a Bíblia deixa claro a compreensão de que Deus é o agente principal na obra da salvação e que Sua soberania abrange todas as coisas, incluindo as escolhas e ações humanas. Embora o homem possua liberdade e consciência para fazer escolhas, essas escolhas já foram predestinadas por Deus, refletindo Sua soberania sobre todas as coisas.

No Livro de Gêneses, Deus é apresentado como o Criador de todas as coisas, inclusive do tempo. O Salmo 90:2 proclama: "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus." Essa afirmação estabelece a base da compreensão de que Deus transcende o tempo e é o Senhor sobre todas as dimensões da existência.

A predestinação, como conceito, está presente nas Escrituras. Em Efésios 1:4-5, lemos: "Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade." Isso ressalta que a escolha e predestinação ocorreram antes mesmo da criação, sublinhando a soberania de Deus sobre o destino humano.

A reflexão sobre a criação e predestinação conduz à compreensão de que Deus está acima de todas as coisas que consideramos reais/ naturais. Colossenses 1:16-17 enfatiza: "Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste." Isso destaca a supremacia de Deus sobre toda a criação.

A consciência humana e a responsabilidade diante de Deus também são abordadas nas Escrituras. Em Provérbios 16:9, lemos: "O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor." Isso sugere que, embora o homem faça planos e tenha consciência de suas ações, a orientação final vem de Deus, reforçando Sua soberania.

E que apesar da predestinação, a responsabilidade humana é clara. Tiago 1:13-14 destaca: "Ninguém, ao ser tentado, diga: 'Estou sendo tentado por Deus.' Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio desejo, sendo por este arrastado e seduzido." Aqui, a responsabilidade do homem diante de suas escolhas é evidente, mesmo reconhecendo a soberania divina.

Em síntese, a Palavra de Deus aponta para uma compreensão profunda de que, embora o homem tenha liberdade e consciência, suas escolhas foram predestinadas por Deus. Ele é o Criador de todas as coisas, inclusive do tempo, e sua soberania abrange cada detalhe da existência. No entanto, a responsabilidade humana permanece, tornando o homem imputável por seus atos diante do Deus soberano. E certamente há muitas coisas que Deus determina sem considerar nenhuma decisão ou ato do homem. Isso é evidenciado pela nossa própria experiência. Há aspectos importantíssimos de nossas vidas sobre os quais não demos nenhuma opinião. Nenhum de nós, por exemplo, escolheu nascer, ou a família em que nasceu, a cidade, o país, as características físicas etc. Da mesma forma, não temos a liberdade para pular de um prédio de 20 andares, sem nenhum equipamento de proteção, e ainda assim continuar ileso, pois não determinamos as leis da Física.

Além disso, a Bíblia nos mostra intervenções divinas incidindo diretamente indivíduos e sobre a história, a fim de cumprir os propósitos do Senhor.

Entretanto, ao olharmos para a Bíblia, veremos diversos registros em que Deus responde ou reage às escolhas e atos humanos. Muitas vezes Deus fala de sua tristeza diante da desobediência e rebelião do homem. O Senhor responsabiliza os homens por suas próprias escolhas e traz juízo sobre a má obra (Romanos 1:18,32). E como Deus não pode mentir (Tito 1:2), precisamos realmente concordar que Ele leva em conta as escolhas humanas em muitas de suas determinações.

Se Deus afirmou que determinou algo em resposta a um ato humano, então realmente foi assim. Vejamos alguns exemplos bíblicos: “Como as nações que o SENHOR destruiu de diante de vós, assim perecereis; porquanto não quisestes obedecer à voz do SENHOR, vosso Deus” (Deuteronômio 8:20). “Porém, se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido, e te inclinares a outros deuses, e os servires, então, hoje, te declaro que, certamente, perecerás; não permanecerás longo tempo na terra à qual vais, passando o Jordão, para a possuíres. Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência “(Deuteronômio 30: 17-19)

“Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito. Abre bem a boca, e ta encherei. Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu. Assim, deixei-o andar na teimosia do seu coração; siga os seus próprios conselhos. Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus caminhos! Eu, de pronto, lhe abateria o inimigo e deitaria mão contra os seus adversários.” (Salmo 81:11-14).

“Embora o Senhor tivesse enviado profetas ao povo para trazê-los de volta para ele e os profetas tivessem testemunhado contra eles, o povo não quis ouvi-los“ (II Crônicas 24:19).

“Porque assim diz o SENHOR Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes“ (Isaías 30:15).

“Por causa da indignidade da sua cobiça, eu me indignei e feri o povo; escondi a face e indignei-me, mas, rebelde, seguiu ele o caminho da sua escolha“ (Isaías 57:17).

“Mas a vós outros, os que vos apartais do SENHOR, os que vos esqueceis do meu santo monte, os que preparais mesa para a deusa Fortuna e misturais vinho para o deus Destino, também vos destinarei à espada, e todos vos encurvareis à matança; porquanto chamei, e não respondestes, falei, e não atendestes; mas fizestes o que é mau perante mim e escolhestes aquilo em que eu não tinha prazer“ (Isaías 65:11,12).

“… Como estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações, assim eu lhes escolherei o infortúnio e farei vir sobre eles o que eles temem; porque clamei, e ninguém respondeu, falei, e não escutaram; mas fizeram o que era mau perante mim e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer“ (Isaías 66:3,4).

“Tornaram às maldades de seus primeiros pais, que recusaram ouvir as minhas palavras; andaram eles após outros deuses para os servir; a casa de Israel e a casa de Judá violaram a minha aliança, que eu fizera com seus pais” (Jeremias 11:10).

“Este povo maligno, que se recusa a ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração e anda após outros deuses para os servir e adorar, será tal como este cinto, que para nada presta” (Jeremias 13:10).

“Mas rebelaram-se contra mim e não me quiseram ouvir; ninguém lançava de si as abominações de que se agradavam os seus olhos, nem abandonava os ídolos do Egito. Então, eu disse que derramaria sobre eles o meu furor, para cumprir a minha ira contra eles, no meio da terra do Egito” (Ezequiel 20:8).

“Eles estabeleceram reis, mas não da minha parte; constituíram príncipes, mas eu não o soube; da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para si, para serem destruídos” (Oseias 8:4).

“Não voltarão para a terra do Egito, mas o assírio será seu rei, porque recusam converter-se” (Oseias 11:5).

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mateus 23:37 cf. Lucas 13:34).

“mas os fariseus e os intérpretes da Lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele” (Lucas 7:30).

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:39,40).

“Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” (João 7:17).

“A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito…  Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. “ (Atos 7:39,51).

“O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22:17).

Os textos acima relacionados são exemplos de como Deus responsabiliza o homem por suas escolhas. São abundantes as situações em que o próprio Senhor afirma estar respondendo ou reagindo à decisões ou atitudes do homem.

As afirmações bíblicas sobre a soberania de Deus ressaltam frequentemente Seu poder em reação aos atos humanos, inabalável diante de qualquer impedimento. A metáfora do oleiro moldando o vaso destaca vividamente a soberania divina sobre o homem. O barro, sendo inanimado e desprovido de vontade, é totalmente submisso ao oleiro, que o modela conforme sua vontade. No entanto, mesmo essa ilustração, presente na Bíblia, revela Deus respondendo às escolhas humanas, seja diante do arrependimento ou da dureza do coração ambos previamente criados pelo mesmo Deus.

O homem, embora seja como barro nas mãos do oleiro, não é retratado como desprovido de escolhas livres. Cada escolha humana, no entanto, inevitavelmente recebe a resposta justa de Deus, sem possibilidade de escape. Em Jeremias 18:3-11, a analogia do oleiro é novamente usada para ilustrar a relação entre Deus e o homem. Deus compara Seu relacionamento com Israel ao oleiro moldando o barro, destacando Sua capacidade de se arrepender diante do arrependimento humano ou de mudar Suas ações em resposta às escolhas do homem.

Se a liberdade de escolha humana fosse completamente inexistente, os textos bíblicos indicariam que Deus se entristece e lamenta Suas próprias determinações. Isso implicaria em Deus iludindo o homem ao fazê-lo pensar que tem liberdade de escolha. No entanto, a verdade é que o Senhor não pode mentir. Quando Ele declara considerar as atitudes humanas em Suas ações, Ele o faz de maneira soberana, sem comprometer Sua absoluta soberania.

Para entendermos isso, precisamos entender três verdades:

Deus é soberano para decidir como exerce sua própria soberania.

Qualquer escolha livre do homem só é possível se Deus soberanamente permitir. Sua soberania não implica necessariamente em determinismo absoluto e meticuloso, pois Ele pode, se assim desejar, abrir espaço, ainda que mínimo, para escolhas humanas.

Deus, ao permitir alguma liberdade às suas criaturas, o faz por decisão própria, sem que isso reduza Sua soberania ou represente uma limitação. Se Ele concede espaço para escolhas humanas, é porque, em Sua soberania, assim determinou, sem a obrigação de dar explicações, obedecer a outros, ou agradar a quem quer que seja.

Embora algumas escolhas humanas possam parecer ser contrárias à perfeita vontade de Deus, Ele não enxerga essa situação como uma diminuição de Seu poder ou soberania. Como expresso em Isaías 50:2, Ele questiona por que ninguém apareceu quando Ele chamou, indicando que Sua mão não está encolhida para salvar. Sua capacidade de agir não é limitada, mas as iniquidades humanas podem criar uma separação, conforme Isaías 59:1,2 destaca, mostrando que os pecados encobrem Seu rosto para que Ele não ouça. Portanto, a soberania de Deus permanece intacta, e Suas ações são guiadas por Sua vontade soberana, mesmo quando permite escolhas humanas.

Ainda que tenha sido concedida liberdade de escolha aos homens, estes não tem o poder de determinar as consequências de seus atos.

Os seres humanos possuem a capacidade de fazer escolhas livres em determinados momentos, contudo, não têm o poder de controlar os resultados de suas decisões. Esse poder está reservado a Deus, que detém a capacidade de oferecer respostas e reações justas para as ações humanas, garantindo assim que Seu sagrado propósito seja cumprido. Em outras palavras, embora o homem tenha liberdade de escolha, os destinos resultantes de cada decisão já foram preestabelecidos pela soberania de Deus.

A Bíblia, em Eclesiastes 12:14, afirma que Deus trará a juízo todas as obras, mesmo as que estão ocultas, seja qual for sua natureza, boa ou má. Isso reforça a ideia de que a soberania divina está presente em cada aspecto da vida humana.

O apóstolo Paulo, em Romanos 2:2-11, destaca a justiça de Deus ao retribuir a cada indivíduo de acordo com suas ações. A passagem ressalta que aqueles que persistem em fazer o bem serão agraciados com a vida eterna, enquanto os desobedientes enfrentarão ira e indignação. É enfatizado que Deus não faz acepção de pessoas.

Dessa forma, quando o homem escolhe o mal, ele está sujeito à sentença de Deus, que determina a morte como consequência. É crucial compreender que o ser humano não pode escapar ou evitar os juízos divinos, pois, ao reconhecerem a sentença de Deus, aqueles que praticam o mal não apenas o fazem, mas também aprovam aqueles que agem da mesma maneira (Romanos 1:32). Essa compreensão reforça a ideia de que a soberania de Deus prevalece sobre todas as decisões e ações humanas.

Deus não é mero espectador da história, mas dirige o universo para um propósito.

Deus não se assemelha a um homem que estabelece as regras de um jogo e, em seguida, apenas observa os jogadores. Ele guia a história com um propósito definido. Apesar das oposições ao governo divino no universo, certos eventos ocorrem que não refletem a vontade perfeita de Deus. No entanto, o Pai está colocando todos os inimigos sob os pés de seu Filho, Jesus. Eventualmente, todo poder se submeterá a Cristo, e Deus será tudo em todos.

O Salmo 110:1 declara: "Disse o SENHOR ao meu senhor: assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés" (também mencionado em Mateus 22:44). O fim se aproxima, quando Cristo entregará o reino ao Deus e Pai, destruindo todo principado, potestade e poder. Ele reinará até que todos os inimigos estejam submissos, sendo a morte o último a ser derrotado (1 Coríntios 15:24-28). Nesse ponto, o Filho também se submeterá a Deus, para que Deus seja tudo em todos.

Podemos afirmar que a soberania de Deus é completa e total, sem implicar em determinismo meticuloso. O homem tem a liberdade de fazer escolhas, sendo responsável por elas. A Bíblia aparentemente apresenta dois fatos contraditórios: a soberania de Deus e a liberdade do homem. Isso levanta questões sobre a relação entre esses aspectos. A soberania de Deus é compatível com a liberdade humana? Deus pode violar a vontade humana ao ponto de determinar atos pecaminosos, imputando ao homem a responsabilidade por esses pecados? Para compreender essas questões, é crucial reafirmar o entendimento quanto a soberania divina e livre-arbítrio humano, pois esses atributos são frequentemente mal interpretados.

QUAL A RELAÇÃO ENTRE A SOBERANIA DE DEUS E A RESPONSABILIDADE HUMANA?

 Muitos críticos têm acusado Armínio e a teologia arminiana de negarem a soberania de Deus, alegando que o arminianismo coloca ênfase no livre arbítrio humano. No entanto, essas acusações carecem de fundamentos. Para Armínio, a premissa fundamental não era a liberdade humana, mas sim o caráter bondoso, justo e santo de Deus.

Armínio rejeitava o ensinamento calvinista de decretos absolutos que conduziam inexoravelmente o homem ao pecado, considerando isso absurdo e uma violação dos sublimes atributos morais de Deus. Tais decretos, segundo ele, tornavam o homem inimputável, pois um ato inevitável por causa de um decreto não merece ser chamado de pecado. Isso, para Armínio, implicaria em Deus sendo visto como um déspota injusto, prazeroso na morte do ímpio.

Para Armínio, a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana é sinergista. A soberania divina, segundo sua visão, capacita Deus a conceder liberdade à criatura e condicionar a salvação à fé e ao arrependimento. O livre arbítrio humano é compatível com a soberania de Deus, pois este, em Sua vontade soberana, determinou que o homem decidisse, após a graça, se submeteria ou rejeitaria essa graça.

Armínio explicou essa relação entre a vontade soberana de Deus e a liberdade humana, enfatizando que a vontade de Deus se inclina a objetos específicos, desejando aquilo que Ele decidiu que fosse feito. Essa vontade inclui a permissão para que criaturas racionais ajam de acordo com seu livre-arbítrio, com restrições baseadas no que Ele julga adequado e justo.

Citando as palavras de Agostinho, Armínio estabeleceu a interdependência entre a salvação pela graça e o livre arbítrio humano. Agostinho afirmou que o livre arbítrio tem a função de salvar, sendo indispensável para a salvação, que é efetivada pela graça de Deus e recebida pelo livre arbítrio.

Dessa forma, a compatibilidade entre a soberania de Deus e o livre arbítrio humano torna-se evidente. A vontade de Deus é soberana, mas inclui a concessão da liberdade de escolha ao homem, possibilitando equidade e voluntariedade no processo de salvação. Para o homem ser moralmente responsável, é necessário que tenha liberdade de escolha, pois atos pré-determinados por Deus, e não desejados pelo homem, o tornariam passivo e inimputável.

O livre arbítrio, segundo Armínio, é uma consequência da vontade soberana de Deus, que escolheu se relacionar com o homem de forma livre, pois a verdadeira relação requer reciprocidade de vontades livres. A Bíblia, nesse contexto, enfatiza que Deus não viola a vontade do homem nem pré-determina atos pecaminosos. O livre arbítrio humano, longe de anular a soberania de Deus, a exalta, tornando o homem moralmente responsável por seus atos diante Dele. A soberania de Deus, nesse entendimento, confere aos seres criados a liberdade de vontade.

Há muita controvérsia doutrinária a respeito da graça de Deus e a devida aplicação na vida cristã. Vários pregadores e mestres defensores de vertentes Calvinistas parecem limitar a ação da graça somente ao passado, direcionando-a somente aos pecados já cometidos. Realmente, a Graça não está estacionada no passado, ela é dinâmica, ativa, viva. Nisto concordamos com os arminianos e descordamos de alguns calvinistas

Embora Armínio acerte em sua definição de Graça como algo além de uma obra estacionada no tempo, ele acaba definindo a Graça como uma “força propulsora” que tira o homem natural pecador da inercia do pecado. Ele parece acreditar que se definirmos Graça somente como a concessão de perdão dos pecados iremos incorrer no erro de transformar a Graça em libertinagem – uma conclusão que exige, no mínimo, premissas bem forçadas. 

Neste sentido a graça divina não é um agir transformador de Deus por meio do Espirito Santo e sem contrapartidas dos homens; mas sim justamente o oposto! A graça é vista como a maior força para nos ajudar a andar em santidade. 

Neste entendimento existe apenas duas opções: Definir a Graça como perdão de pecados e justificação em Cristo dando salvo condutos aos pecados cometidos pelos eleitos; ou Definir a Graça como perdão e força para a prática da santidade. Ao aceitar a primeira definição iremos “cair em libertinagem”, ou a segunda opção onde defenderemos a Graça como uma espécie de energia espiritual? Reduzir a Graça a somente duas alternativas é um equívoco pois A Graça é a própria pessoa de Jesus Cristo.

Neste sentido o pensamento arminiano acredita que a Graça veio fazer o que a Lei fora incapaz de realizar: levar o homem a obediência a Deus. Já que a Lei não poderia produzir obediência, a Graça vem exclusivamente com esse propósito de nos levar a obediência. Ele interpreta erroneamente a perfeição de Hebreus como comportamento e obediência e não como a realidade espiritual da identidade do crente em Cristo que é aperfeiçoado mediante o seu sangue (Hebreus 10:10, 14) 

O leitor pode não perceber isso automaticamente, mas a definição arminiana possui um histórico na Igreja. No entanto, não é um histórico bom. Suas origens remontam ao Catolicismo Romano, a era medieval. No entendimento do catolicismo, a Graça é uma espécie de catalizador espiritual que nos conduz a boas obras.No entendimento católico Romano, o homem não poderia se justificar por meio da Lei, mas a Graça era a força divina que poderia produzir tal justificação e salvação – se os homens cooperassem com ela. 

Portanto o entendimento da Graça em consonância com a Palavra de Deus defende a pessoalidade da Graça em Cristo. A Graça não é uma coisa, mas uma pessoa. Embora possamos definir Graça como favor imerecido, somos cautelosos em destacar que esse Favor é Jesus Cristo e sua Obra como escrito em João 3:16 – Deus amou o mundo de tal maneira que deu O Seu Filho Amado para que todo aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna.O Sacrifício do Senhor Jesus é o nosso favor imerecido a Graça se tornou alguém, um ser, Jesus. A graça é pessoal e veio como uma pessoa — a Pessoa de Jesus Cristo”. 

Em João 1:17 lemos que a Graça “veio” (uma descrição pessoal), em Tito 2:11 Paulo afirma que a Graça “se manifestou” (apareceu). Quem se manifestou? O próprio Cristo. Ainda em Tito 2:11 Paulo dá mais duas características pessoais e cristocêntricas à Graça: “graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.”; “Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente”.

O que nos ensina a viver de forma correta? Uma pregação moral sobre obras mortas? A Lei ou uma pregação sobre a Ira de Deus? Não! É a Graça, é Cristo em sua presença.

O apostolo Paulo pensa na graça agindo dinamicamente sobre os homens. É Cristo agindo em pessoa. A Graça nunca é adjetivo nos lábios de Paulo, mas sempre dinâmica. Graça é o Cristo transcendente em movimento gracioso, perdoador e capacitador.

A Graça não está estacionada em um evento da justificação, no perdão de pecados. Ela é ativa, dinâmica. Graça é o próprio Cristo, é uma Pessoa, é tudo o que há em Cristo, em seu ser e presença. O homem é receptivo, o homem vive pela “fé no filho de Deus” (Gálatas 2:20) vive pela fé no Espírito (Gálatas 3:2), vive pela fé como justo (Romanos 1:16). Através da fé no Evangelho, na medida em que “renovamos a mente” (Romanos 12:2), que crescemos no “conhecimento, revelação e entendimento” de Cristo e sua Obra (Efésios 1:17-18), Ele se manifesta em nossas ações e comportamentos.

Logo, a Graça não é uma coisa, não é um agente de Deus, uma substância que flui de seu ser, uma doutrina ou um remédio. A Graça é o ser de Deus em Cristo, é a própria pessoa de Jesus. É simplesmente isso que defendemos.

Por último, gostaria de comentar rapidamente alguns textos usados para defender seu ponto de que a Graça é uma força.

Comentando Tito - Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. (Tito 2.11-13).

Para os arminianos, esse é um texto prova de que a Graça é uma “força” que nos “ensina a viver em piedade”. Porém, como é perceptível no próprio texto, Paulo fornece ricos detalhes da pessoalidade da Graça. Ele não define Graça como energia ou força, mas como a pessoa de Jesus Cristo. É possível argumentar isso a partir do seguinte ponto: A Graça se “manifestou” (apareceu). 

Outro texto usado se encontra em 1 Coríntios 15:10 que diz:“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo” Perceba que nesse verso Paulo é rápido em destacar que tudo o que faz e é deriva da Graça de Deus. Esse é um texto que não prova, de nenhuma forma, “a colaboração do homem com a Graça de Deus”, mas a receptividade da Graça. Perceba também que Paulo não diz que recebeu mais Graça que os demais apóstolos e que, por isso, estava trabalhando mais do que eles. Paulo não está argumentando que precisamos receber mais e mais Graça como uma espécie de energia espiritual para fazer boas obras.

Todos os cristãos receberam a mesma Graça. Todos nós recebemos a plenitude de Jesus: “Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça.” (João 1:16). Entretanto, alguns cristãos permitem mais do que outros a manifestação dessa Graça: “e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles…” (1 Coríntios 15:10)

Em Hebreus 4:11 temos: Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência. Para os arminianos este texto fala do esforço humano e da graça divina combinados. Um não exclui necessariamente o outro. Mesmo dependendo da graça divina, devemos cooperar com ela. Devemos fazer a nossa parte. É importante lembrar que não estamos falando apenas da conversão, mas também da caminhada cristã. 

O leitor percebeu a falha de interpretação? Para os arminianos, o autor de Hebreus está dizendo que o esforço está unido a Graça, unido ao descanso. Isto é, a matemática é: esforço + descanso e/ou Graça. Essas duas verdades estão “combinadas”. Todavia, não é isso que o autor de Hebreus nos diz. Ele não fala sobre se “esforçar e descansar”, mas sobre se “esforçar para descansar”. Não é esforço e descanso, mas o esforço PARA o descanso. Esse é um detalhe crucial. O autor não está falando de cooperação, mas de recepção.

Os Frutos do Espirito

Para muitos irmãos, a falta do fruto do Espírito é o resultado de não dar um passo além do perdão dado em Cristo, é o resultado de ficar apenas ouvindo sobre o amor e perdão de Deus e de não dar um “passo além” de esforço próprio..

Muitos podem contra argumentar dizendo que Pedro fala do esforço quando diz “empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude…” (2 Pedro 1:5). No entanto, tal “empenho” não é sem direção. O próprio Pedro especifica o empenho no verso 9: lembrar das realidades do perdão e da justificação que recebemos.

Mas não devemos esquecer que a santidade nunca é uma “segunda bênção” colocada ao lado da bênção da justificação… Nossa conclusão é realizada somente em Cristo (Col. 2.10) “porque, por uma oferta, ele aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10.14). A exortação que chega à Igreja é que ela deve viver com fé a partir dessa plenitude; não que ele precise trabalhar para uma segunda bênção, mas que se alimente da primeira bênção, o perdão dos pecados. A guerra da Igreja, de acordo com o testemunho bíblico, brota da exigência de viver realmente desse primeiro testemunho.

A  santidade prática (o processo de mudança dos nossos comportamentos) não é o processo de irmos além da justificação, mas de vivenciarmos e mergulharmos em tudo o que recebemos na justificação. Ele destaca que, “o coração da santificação é a vida que se alimenta da justificação”, e, “a santificação está continuamente enraizada na justificação”

Outro texto importante para entendermos essas diferenças está em Judas 4: Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor. (Judas 1:4)

Muitos apresentam usam essa advertência para defender quee a graça estava sendo transformada em libertinagem! Falsos mestres tentaram, desde o início da fé cristã, transformar a graça divina em algo que ela não é, nunca foi e nunca será: libertinagem. 

Perceba o pressuposto básico do início do capítulo que confundem a Graça como uma desculpa para libertinagem, logo, esse texto se refere a eles. Para refutar tal pressuposto, basta realizarmos ao menos uma pergunta que põe abaixo toda a argumentação: Onde estão as evidencias de que o ensino da Graça fornece permissividade ao pecado?

Do mesmo modo, uma exegese sincera do texto já demonstra o que o autor de Judas tem em mente nesse verso. Ele destaca que esses hereges transformavam a graça em libertinagem ao “negar Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor”. Outro detalhe do texto diz respeito a palavra “transformam”. O que Judas tem em mente ao dizer que esses hereges transformavam a graça em libertinagem? Em outras palavras, a “transformação” da graça é definitivamente uma troca. Para que haja perversão da graça de Deus em libertinagem é necessário troca-la por outra coisa. A Graça em si, jamais induziria ao pecado.

Estes são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor. (Judas 1:4)

Esses hereges “transformavam” (trocavam) a graça ao rejeitar Jesus Cristo, ao negá-lo. A negação de Jesus está ligada a transformação da Graça. É impossível negar Jesus e ainda permanecer na Graça. Justamente porque a Graça é Jesus. Deste modo, esses homens negavam Jesus, e transformavam a Graça em libertinagem ao trocá-la por outra coisa.

No que consistia essa negação e rejeição da graça e de Cristo? Em incredulidade. No verso 5, o autor cita um exemplo ligado ao verso 4:

Embora vocês já tenham conhecimento de tudo isso, quero lembrar-lhes que o Senhor libertou um povo do Egito mas, posteriormente, destruiu os que não creram. (Judas 1:5)

A incredulidade trouxe destruição a Israel. Do mesmo modo, a incredulidade em Jesus traz destruição ao homem. Rejeitar a Jesus é não crer em sua obra suficiente. Os hereges de Judas 4 negavam Jesus e a sua obra, afirmando que poderiam pecar livremente, que não haveria consequências para o pecado. Nenhum proponente HG se aproxima da descrição de Judas. Todos, com unanimidade, defendem que existem consequências para o pecado.

Pregue o evangelho da graça e alguns perguntarão: “Se a graça de Deus é maior que meu pecado, por que não posso continuar pecando?”. Essa foi a questão que Judas está enfrentando aqui. A graça de Deus nos ensina a dizer não à impiedade, mas a licença nos ensina a dizer sim.

Jesus morreu para nos libertar (GRAÇA), mas podemos perder nossa liberdade de duas maneiras; por legalismo ou licenciosidade. A primeira coloca etiquetas de preço na graça gratuita de Deus, enquanto a segunda remove as etiquetas de preço do pecado. A licenciosidade diz para fazer o que quiser, pois estamos debaixo da graça e não da lei. É uma verdade parcial que leva ao cativeiro e à morte.

O pecado é destrutivo. O pecado separa casamentos, famílias e entes queridos. Então deixe-me deixar isso absolutamente claro: o pecado é horrível! O pecado vem com consequências danosas. Sou contra o pecado e é por isso que prego a graça de Deus! Sua graça é a única resposta para vencer o pecado!

Da mesma forma, se alguém está deliberadamente se envolvendo no pecado e vivendo um estilo de vida pecaminoso, ele será queimado pelas consequências destrutivas que vêm com o pecado. 

No próprio livro de Judas, o autor destaca como podemos viver longe da libertinagem dos hereges do verso 4: Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida eterna. (Judas 1:21)

Observe que a chave para vencer a licenciosidade não é manter uma lista de regras, mas mantendo-se no “amor de Deus”. A Graça e o amor de Deus são o que motivam uma vida transformada.

E muitos que querem imputar aos homens algum protagonismo na salvação defendem que o conceito de agradar a Deus não está relacionado com a busca humana por amor, aceitação ou valor. Pelo contrário, trata-se de uma declaração do valor que o nosso Criador e Redentor tem para conosco. O empenho, quando aplicado nesse contexto, é um reconhecimento do valor que o Altíssimo e seu Reino tem para nós; não se trata, como alegam alguns, da tentativa de alcançar valor ou mérito diante de Deus. Ou seja, que o nosso empenho é o que nos condiciona a sermos agradáveis a Deus.

Novamente voltamos para Hebreus: Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência. (Hebreus 4:11)

É curioso porque o autor da carta aos Hebreus cita a entrada no descanso como sinônimo de obediência. Infelizmente, muitos irmãos ainda têm dificuldade de renunciar suas forças e descansar na força de Deus para serem transformados e enfrentarem os diversos problemas dessa vida.

Existem alguns pontos de concordância entre o que cremos e o que Arminio defendia. Também cremos que nosso empenho não muda o Amor de Deus por nós e que servir faz parte da vida cristã. Porém, enxergamos a relação entre esforço e ser agradável a Deus numa perspectiva diferente.

Nós cremos que assim como Jesus foi chamado pelo Pai de “Filho amado, em quem tenho prazer” mesmo antes de fazer seu primeiro milagre (Mt 3:17), nós também somos chamados assim independente do que fazemos ou não. Isso só foi possível porque Jesus se identificou conosco nos substituindo na Cruz (2 Cor 5:21), logo, nossa nova identidade é pautada na identidade de Cristo. Somos santos, amados, agradáveis e plenamente redimidos (Ef 1:4-7). A única obra que nos torna agradáveis a Deus é a obra de Cristo. Por nós mesmos, não teríamos/temos esta capacidade.

Assim, não nos esforçamos para sermos agradáveis a Deus e nem para produzirmos boas obras. Cremos que essas coisas acontecem de forma natural, pois nossa nova natureza é destinada às boas obras, portanto, não teria nenhum sentido fazermos essas obras pensando em recompensas (Ef 2:8-10).

O que transforma o cristão não é se esforçar pra ser agradável, mas conhecer sua nova identidade. Quando entendemos e nos aprofundamos em quem Deus nos criou para sermos, naturalmente nossa mentalidade e nossas atitudes vão se aperfeiçoando ao que somos.