A Soberania de Deus

Reflita, para você, a expressão Soberania de Deus é como falar em uma língua desconhecida. Dizer que Deus é soberano ou, simplesmente, dizer que Deus é Deus, Onipotente, que governa as nações (como diz Sl 22.28), e que Ele é o Único soberano?

Para o que você ouve nos cultos cristãos ou no simples dia-a-dia, o Deus de hoje parece ser uma mera caricatura, um desenho deplorável, uma “burlesca imitação” do Deus da Bíblia? Muitos hoje têm dito crer num Deus que está fazendo de tudo, o melhor que pode, para salvar a humanidade, mas que muitos têm se negado a aceitar Sua proposta de salvá-los? E, por último, que isso nada mais é do que dizer e pensar que Deus é impotente e que a vontade da criatura, dos seres humanos, é superior à de Deus?

A Soberania De Deus Na Criação

A soberania marca todos os seus caminhos e modos de ser. Deus é soberano mesmo antes da criação. Foi Ele que decidiu se criaria ou não todos as coisas que existem atualmente e fez isto segundo o Seu prazer, Ele decidiu criar a vasta graduação do universo ao invés de uma completa uniformidade. Deus é soberano e tudo executa segundo Sua vontade e para o seu próprio beneplácito considerando somente a Sua glória. Com quem compararíamos Deus?

Inicialmente, é imperativo reconhecer a imensa necessidade da soberania de Deus sobre o nosso mundo, da ocupação do trono divino, do governo sobre Seus ombros e do controle sobre as atividades e destinos de Suas criaturas.

Nas Sagradas Escrituras, Deus é apresentado como dominador sobre toda matéria inanimada. Ele é quem comanda os ventos, a terra, o mar, o ar, o fogo, a água e todas as coisas. Dessa forma, quando expressamos queixas sobre o clima, na verdade estamos questionando o governo soberano de Deus.

É notável como as Escrituras estão repletas de exemplos da soberania e do governo divino sobre a vida animal na Terra. Todos obedecem à Sua vontade, independentemente das circunstâncias.

Provérbios 19:21 oferece um excelente exemplo disso, ao afirmar que os passos do homem (não apenas dos crentes, mas de todos os seres humanos) são dirigidos pelo Senhor, evidenciando que todos estão sob o governo e controle de Deus. 

Um exemplo marcante desse governo divino é apresentado no Antigo Testamento em 1 Crônicas 21:15,27, onde um anjo destinado a destruir Jerusalém é detido pela ordem de Deus. Os anjos estão constantemente atentos à voz do Senhor. No Novo Testamento, observamos o governo de Deus sobre os anjos maus na narrativa envolvendo Jesus, especialmente quando Ele confronta uma legião de demônios que suplicam permissão para entrar em porcos. As Escrituras deixam claro que Deus governa sobre os anjos, tanto os bons quanto os maus, e todos estão sob Seu controle.

Nenhum movimento de qualquer astro, nenhum brilho de qualquer estrela, nenhuma tempestade, nenhum ato de qualquer criatura, nenhuma ação humana ou missão de anjos, nenhum dos atos de Satanás - nada, em todo o vasto universo, pode ocorrer sem fazer parte do eterno propósito de Deus.

Portanto, à luz da revelação divina, somos capacitados a compreender o momento em que, como cristãos, nos submetemos de maneira anelante para receber Cristo como nosso Salvador. É somente o Senhor que pode conferir disposição para a transformação, uma vez que Ele, sendo soberano, realiza todas as coisas conforme Sua vontade inquestionável. A recusa de muitos em aceitar a Cristo não se limita apenas à perspectiva humana; há um aspecto divino que, se não for enfatizado, resultará, conforme as palavras de Pink, em Deus sendo "despojado de Sua glória".

Romanos 9 emerge como uma passagem notável ao afirmar a soberania inquestionável de Deus. Nela, Deus reivindica o direito essencial de agir conforme Sua vontade sobre a criação que Lhe pertence. Numerosos exemplos bíblicos são apresentados para evidenciar não apenas o governo divino na história do Antigo Testamento, mas também a eleição incondicional e gratuita de um povo. Destaca-se na dinâmica divina o fato de Ele ter escolhido "as coisas fracas do mundo", visando engrandecer Sua graça. Essa escolha visa que os eleitos sejam "santos e irrepreensíveis perante Ele", impulsionada pelo amor divino.

A discussão central neste ponto se concentra na questão: por quem Cristo morreu? Sabemos que a morte de Cristo tem um propósito de extensão limitada, destinada apenas aos eleitos. A expiação limitada reflete, assim, a escolha divina do Pai para a salvação de determinadas pessoas. Textos como João 6.37,39 são citados para sustentar a soberania de Deus sobre o Filho e a Salvação. A ira divina foi satisfeita, e Cristo, morrendo pelos injustos, substituiu o homem culpado. Até mesmo o sacerdócio de Jesus, em favor de quem Ele intercede, é delimitado.

Na Trindade, cada pessoa desempenha um papel crucial em nossa salvação: o Pai é responsável pela predestinação, o Filho pela propiciação, e o Espírito Santo pela regeneração. É o Espírito Santo que realiza Sua obra em nós. Ao investigarmos as Escrituras em busca de razões para a exclusão de alguns do Reino de Deus, encontramos que é devido à ausência da operação do Espírito Santo neles. O Espírito Santo age soberanamente, como o vento, soprando para onde deseja.

Para finalizar este capítulo, gostaria de levantar uma indagação profunda e transcendental acerca da predestinação divina, questionando se Deus, em Sua magnanimidade, predestinou todos os eventos que ocorrem no universo. Será que Ele, em Sua sabedoria eterna, delineou minuciosamente cada acontecimento, desde os momentos de júbilo até os mais trágicos, abrangendo inclusive o desenrolar dos eventos futuros?

Antes de responder devemos perceber que a presciência divina não é a causa dos eventos, mas sim os efeitos de Seu propósito eterno. A compreensão é conduzida pelo entendimento de que nada ocorre sem a prévia determinação divina.

Podemos citar o exemplo supremo da Crucificação, ilustrando que nenhum acontecimento escapa ao pré-determinado propósito de Deus. O conhecimento antecipado de Deus não apenas precede, mas guia os eventos, revelando Sua soberania sobre todas as circunstâncias (Jeremias 1:5; Isaías 46:10). Como a própria Escritura assegura, "Os passos de um homem são dirigidos pelo Senhor" (Salmo 37:23).

Ao abordar a grandiosa finalidade de Deus para o mundo e a humanidade, destacando-se, com profundo embasamento bíblico, que o propósito supremo de toda a criação é a Glória Divina (Apocalipse 4:11; Salmo 19:2). A obra de Deus, incluindo a criação do homem, é intrinsecamente destinada a manifestar Sua glória de maneiras insondáveis.

Adentrando nas intricadas formas como Deus lida com os justos, Pink discorre sobre quatro aspectos fundamentais: o poder vivificante, o poder dinamizante, o poder orientador e o poder preservador que Deus exerce sobre Seus eleitos. Cada influência divina é meticulosamente delineada, revelando o zelo cuidadoso do Criador para com aqueles que O temem (Romanos 8:30).

Por outro lado, ao explorar o método divino de lidar com os ímpios, Pink conclui que Deus, em Sua infinita sabedoria, exerce influências restritivas e abrandadoras sobre eles, visando a promoção da glória divina. O Autor Sagrado é invocado para respaldar essas conclusões, como visto na Escritura que afirma: "Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó" (Êxodo 7:3). As ações de Deus, mesmo ao lidar com a obstinação dos ímpios, estão impregnadas de propósitos redentores e soberanos.